O uso terapêutico da planta do
gênero “Cannabis” data de milhares de anos, segundo alguns historiadores, sendo
utilizada para o tratamento de uma enorme quantidade de moléstias. Ao final do
século XIX, fazia parte da farmacopeia de diversos países na Europa, Ásia e
África, sendo prescrita por médicos e outros profissionais, porém desde o
início do século XX passou a ser proibida quanto ao uso, mesmo que para a
saúde.
Com o tempo, no nosso país
inclusive, o uso terapêutico da planta passou a ganhar espaço, sendo
reconhecida a sua eficácia no tratamento de diversas doenças, algumas já
definidas em protocolos técnicos pelas agências reguladoras, principalmente a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, entidades médicas e o
próprio Ministério da Saúde.
As pesquisas pioneiras iniciadas
no ano de 1964 em Israel, pelo Dr. Raphael Mechoulam, levaram ao conhecimento
mais aprofundado sobre o uso medicinal da planta. Nos anos setenta houve um
notável avanço na compreensão do que passou a se chamar sistema endo-canabinóide e seus mensageiros endógenos (anandamida e
2AG), e o isolamento das principais substâncias de ação terapêutica da planta,
os fitocanabinóides canabidiol (CBD)
e o delta-9 tetraidro canabinol (THC).
Sabe-se hoje que a planta possui mais de 300 substâncias potencialmente
benéficas.
Que pacientes poderiam se
beneficiar do uso de derivados da cannabis?
No atual estágio de conhecimento,
existem evidências de benefícios para o tratamento de enfermidades e condições
clínicas crônicas variadas, complementado o tratamento convencional e reduzindo
efeitos adversos. As principais condições para as quais foi verificada uma ação
terapêutica, total ou parcial, incluem:
·
Ansiedade e estresse
·
Artrite
·
Asma
·
Algumas neoplasias
·
Concussões, lesões cerebrais e medulares
·
Convulsões*
·
Dependência química
·
Diabetes
·
Distúrbios alimentares (anorexia, obesidade,
caquexia)
·
Distúrbios do sono (insônia e apnéia do sono)
·
D. de Alzheimer
·
D. Neurodegenerativas (Huntington, Parkinson)
·
D. de pele (psoríase, acne)
·
Dores crônicas em geral
·
D. Inflamatória Intestinal
·
Enxaqueca
·
Esclerose lateral amiotrófica (ELA)
·
Esclerose Múltipla
·
Náuseas e vômitos intensos**
·
Síndrome do intestino irritável
·
Transtorno do Déficit de Atenção com
hiperatividade (TDAH)
·
Transtorno do Espectro Autista (TEA)
·
Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT)
* A indicação do uso da cannabis para o tratamento de convulsões
graves e refratárias como na Síndrome de Dravet, Síndrome de Doose, na Doença
de Lennox-Gastaut, e no complexo da Esclerose Tuberosa, estão legalmente
previstas e indicadas na Resolução nº
2324/22 de 14/10/2022 da ANVISA;
** Principalmente após o uso de
quimioterápicos para tratamento dos mais diversos tipos de câncer.
O uso de derivados da cannabis
pode curar doenças crônicas?
O tratamento para doenças
crônicas não se propõe a curar, mas sim proporcionar controle total ou parcial
dos sintomas, permitir melhor qualidade de vida e diminuir a toxicidade/efeitos
adversos dos tratamentos convencionais. Ou seja, não se propõem a substituir, mas sim contribuir com o tratamento dessas
doenças.
Quem pode usar produtos derivados
de cannabis?
Qualquer pessoa, independente de
idade e doença de base pode fazer uso dos derivados de cannabis, desde que bem indicado por profissional competente.
Como os derivados de cannabis são
usados no Brasil?
Os meios mais comuns de
administração são a forma oral (gotas), a forma de spray oral, e a forma
tópica.
Como os derivados de cannabis
oral são prescritos?
Após a avaliação inicial, havendo
perspectiva de benefício, o médico irá prescrever a solução apropriada para
aquele paciente, para aquela doença e para aquele estágio de doença. Para cada
situação, recomenda-se a prescrição individualizada na composição e na
titulação, utilizando-se os fitocanabinóides conhecidos em proporções, dose e
tempo de uso recomendados.
Aonde adquirir derivados de
cannabis para compra?
Vários importadores fazem essa
função, seguindo rigorosamente o que foi determinado em receituário médico simples,
trazendo o produto de outros países (principalmente EUA). Os derivados de cannabis também podem ser adquiridos em
farmácias comuns, em preparações com concentrações pré-definidas, com receita
tipo A (amarela). Também existem várias associações no país que fabricam
produtos derivados da planta e os comercializam.
O futuro reserva indicações cada
vez mais abrangentes, após novos estudos para o uso terapêutico da cannabis. E muito mais pessoas deverão
se beneficiar dessa alternativa de tratamento.
Caso o colega deseja mais
informações a respeito, teremos prazer em encaminhar.
E se por acaso estiver diante de
um caso no qual perceba um potencial benefício com o tratamento utilizando cannabis, teremos prazer em fazer uma
avaliação detalhada e, caso pertinente, indicar o melhor tratamento para o seu
paciente.
Referências
bibliográficas selecionadas:
1 – Ang, Samuel P., et al: “Cannabinoids as a Potential Alternative to
Opioids in the Management of Various Pain Subtypes: Benefits, Limitations, and
Risks”. Pain Ther, 2022. Acesso
em https:// doi.org/10.1007/s40122-022-00465-y
2 – Costa, Alana C. et al.: “Cannabinoids
in Late Life Parkinson’s Disease and Dementia: Biological Pathways and Clinical
Challenges”. Brain Sci. 2022,
12, 1596. Acesso em https://doi.org/10.3390/brainsci12121596
3 – Pagano, Cristina, et al.: “Cannabinoids:
Therapeutic Use in Clinical Practice”. Int. J. Mol. Sci. 2022,
23, 3344. Acesso em https://doi.org/10.3390/ijms23063344
4 – Lorenzeti, Valentina, et al.: “Effects of cannabinoids on resting state
functional brain connectivity: a systematic review”, Neuroscience and
Biobehavioral Reviews, (2022). Acesso em https://doi.org/10.1016/j.neubiorev.2022.105014
5 – Schlag, Anne K., et al.: “The value of real world evidence:
The case of medical cannabis”, Front. Psychiatry 13:1027159.
Acesso em https://doi: 10.3389/fpsyt.2022.1027159
6 - J. Eduardo Rodriguez-Almaraz,
Nicholas Butowski: “Therapeutic and
Supportive Effects of Cannabinoids in
Patients with Brain Tumors (CBD Oil and Cannabis)”, Curr. Treat. Options in Oncol. Acesso em https://DOI 10.1007/s11864-022-01047-y